O impasse…

Ela trabalha há muitos anos na mesma empresa. Não sei se teve sonhos, ambições, se em algum momento questionou o sistema. Não sei. Tudo que sei é que por necessidade ficou. Foi ficando. Começou em um setor, foi sendo remanejada pra outro, depois mais outro e assim foi. Nessa brincadeira, viu a vida passar pela janela. Minto. A empresa não tem janelas, então, lhe restou ver os dias passando ao sair do trabalho e ao levantar de sua cama no dia seguinte.

Imagino que tivesse seus sonhos sim, mas por não poder desfrutá-los como queria, foi adiando, adiando. No meio disso tudo, uma certeza cresceu em seu peito: “vou  me aposentar um dia”. E foi contando os meses, os dias, os minutos. Quando a contagem cessou, agendou uma entrevista no INSS, reuniu seus documentos e lá foi. Um colega mais antigo na empresa cansou de lhe dizer que não fizesse isso, o dinheiro que receberia seria pouco, perderia isso, aquilo e aquilo outro. Vi muitas vezes, ele repetindo o mesmo discurso. Ela sorria, balançava a cabeça e obstinada como ela só, deixava quieto. Então, foi e conseguiu a aposentadoria. Descobriu um erro de cálculo aqui outro ali no processo. Mas no final, alcançou parte do seu sonho.

Mas agora, eis o xis… aposentou-se pelo INSS e a empresa não a demitiu. Talvez espere que ela peça para sair. Não sei. Talvez a contagem deles seja diferente. O que sei também é que dia após dia ela tem aparecido para cumprir com seu dever. Ela gosta? Não. Tem 50 e poucos anos, cuida da mãe, corre e possui um cachorro lindo que é trêbado de amor por ela. Quer cozinhar, correr livre por aí, fazer cursos de artesanato, viajar se der e coisas do tipo.

Hoje conversamos. Disse que vou jogar e ganhar na mega-sena e dar a ela seiscentos mil reais. Perguntei se ganhando esse dinheiro, ela pararia de trabalhar. Rapidinho me respondeu: “não. Não vou pedir pra sair. Trabalhei muito tempo aqui e quero o que é meu por direito.”

O que posso dizer? Ela está errada? Definitivamente é difícil julgar e mais difícil ainda responder. A única coisa que posso fazer no momento, é continuar torcendo para que ela realize o seu sonho.

O poder do novo

Quando criança vi muitas famílias de amigos partirem para os Estados Unidos em busca de algo melhor. Era os anos 1980 e se sonhava, como ainda muitos o fazem, com um futuro diferente vivendo nas terras do primo do norte. Em tais ocasiões, minha família também cogitava em partir. E meu pai sempre dizia que de todos, em nossa casa, quem melhor aprenderia inglês seria eu. Por ser a mais nova. Eu achava isso intrigante e fabuloso também.

Contudo, nunca fui morar em outro país. E, em matéria de inglês, o meu é bem macarrônico. Mas detalhes linguísticos à parte, esse final de semana a informação de meu pai fez eco dentro de mim com novas verdades. Explico; minha sobrinha mais velha completou dois anos de namoro. Ela é novinha, 18 anos. O namorado tem um ano a mais. Começaram a namorar no Ensino Médio, hoje estão na faculdade, tecem sonhos, planos, compartilham companheirismo, gargalhadas, cumplicidade e respeito. É algo bonito de se ver. Se os anos que eles têm juntos se transformarão em algo maior, isso é outra história. Mas o momento presente é lindo. De verdade!

E aí, fiquei pensando na mágica que os une. Claro, há o amor, a paixão, o encantamento. Mas há bagagens leves dos dois lados. Eles descobrem fatos, informações e perspectivas. Nenhum deles carrega um coração mega-partido, ou um casamento desfeito, ou uma traição em alto grau, ou, ou e ou… Essas histórias tristes que fazem parte do término dos romances dos adultos. E que infeliz e invariavelmente nos travam as pernas ao nos depararmos com novas possibilidades. Afinal, se sofremos de tal e tal maneira por que repetir a experiência? E tristemente nos fechamos. Nossa tolerância ao amor torna-se baixíssima. Talvez não ao sentimento, mas a possibilidade de sofrermos novamente por causa dele.

Me chocou pensar no poder do novo. No poder de ser novo. Lamentei não poder tornar-me nova, novamente…

Há um filme que adoro, devo ter assistido alguns milhões de vezes, De repente 30, que faz uma retomada no tempo. A personagem principal resgata seus valores e reconhece o que é realmente importante. E reconquista o amor da adolescência…

Seria bom se isso fosse passível de acontecer. Mas não é. Então, não há solução? Talvez haja sim… Permitir-se. Tentar viver a vida de forma mais leve. Não arrastar as correntes do passado, reaprender a sonhar, como diz a letra da canção. Se rola? Confesso que não sei. Ainda. Mas vou tentar. Prometo.

2012!

Nem sempre, manter a fé é um exercício simples. Você sabe, a vida, esse ritmo que nos envolve a cada momento, é repleta de altos e baixos. Muitas vezes muito mais baixos do que altos. E daí, continuar caminhando em meio a turbulências não é tarefa de pouca monta. O problema é que sei lá qual a razão, esperamos que tudo se resolva bem e rapidamente e, quando o resultado não é o esperado, a fé dentro de nós esmorece.

Você pode definir fé como um sentimento, uma crença, mas quero compartilhar dois conceitos. São Paulo nos diz, em Hebreus 11:1, “Ora a fé é a certeza daquilo que esperamos…”. E o dicionário Houaiss, amigo pessoal e inseparável, traz a seguinte definição: “Confiança absoluta (em alguém ou algo), crédito”. Gosto da ideia de que fé é a certeza, perceba que o autor diz que é a certeza do que esperamos. Logo, fé é diferente de esperança. Esperança é expectativa, fé é fato. Então, se tenho fé sei que a minha expectativa se realizará. Juntando os dois conceitos, de Paulo e Houaiss, fé é certeza, a confiança absoluta de que tudo o que eu espero virá a existência.

Sabe, acho mágico este troço chamado ano novo. O que ele é? Nada mais do que uma contagem do tempo… Será um novo verão, outono, inverno e primavera. E pronto. Contudo, a magia está aí, pois de alguma forma, assim como as estações se renovam, sabemos que podemos reescrever a nossa vida. Cremos ser possível desenterrar os sonhos do baú, realizar aquilo que viemos adiando há tanto tempo, vermos as nossas mazelas, doenças e feridas curadas e por aí vai… Então, analisamos o tempo passado, renovamos a nossa fé e partimos felizes, cheios de boas expectativas, algumas vezes tresloucados, mas prosseguimos buscando dias melhores.

Infelizmente, alguns entram o ano sem esperança… São tantas as dores e os fatos tristes que nem sempre conseguem vislumbrar algo novo. Tudo bem. É uma questão de tempo… Claro, o tempo. Outros adentram os novos 365 dias cheios de esperança… Boas expectativas. Há ainda, o grupo que revigora a sua fé. Sua certeza. E caminha com a cabeça erguida, disposto a realizar, a ver acontecer. Admito; quero fazer parte do último grupo. Mas quero mais; quero todas as pessoas que me cercam dentro dele também. E lógico, quem mais quiser se achegar.

Penso que se a vida, este doce balanço que nos envolve, nos permite um reescrever, por que não tomar essa folha em branco, a caneta e ir traçando letras e histórias? É isto. Sem mais delongas, um 2012 cheio de tudo de bom pra todos nós!

“Olhar o presente sem olhos nostálgicos”

Acaba hoje, a novela Ti-ti-ti. Como fiquei envolvida com muitas letras, como disse no post anterior, não falei sobre algo que eu queria dizer. Via de regra não sou noveleira. Mas confesso que a esta assisti quase que de ponta a ponta. Talvez, por lembrar de alguns capítulos que vi enquanto criança e querer rir com a graça que eu lembrava. Mas o ponto é que gosto de retirar algumas pérolas do que é dito. Nem tudo, é apenas ficção.

Antes de qualquer coisa, eu gostaria de me deter na mocinha da novela: Marcela. Uma fofa! Gosto muito do trabalho de Isis Valverde, e sinceramente, parece que a personagem foi feita para a intérprete e vice-versa. Há, contudo, algumas discrepâncias que poderiam ser julgadas como licenças poéticas, talvez. Não sei. Marcela, no início da novela, era uma moça pobre que trabalhava como ajudante, lavando cabelos, em um salão de bairro em Bh; seu trabalho é este em função de sua pouca instrução. Contudo, a mesma Marcela finaliza a novela como colunista de uma importante revista, em São Paulo. Confesso, admito de verdade, que a sorte de Marcela me irrita. Embora eu saiba que contos de fadas são coisas de novela, livros e cinema; imagino que a grande maioria das pessoas que escrevem, como eu, gostaria de ter a chance de ser colunista, cronista, algo semelhante em algum veículo importante. A verdade é que nem tudo na vida são flores, principalmente na real; então permitamos a Marcela viver o nosso sonho, de mentirinha.

Mas porque falo de Marcela? Por que neste emprego específico, o de colunista, respondendo e-mails de leitores com problemas sentimentais, uma resposta dada pela personagem, me chamou bastante a atenção. Quem escrevera lhe pedia ajuda para esquecer alguém que não lhe merecia. E a colunista dizia então, que para esquecer alguém; “é preciso olhar o presente sem olhos nostálgicos”. Essas palavras mexeram comigo. De verdade. Elas não cabem apenas em casos de amor, elas se encaixam em tudo. Caem bem ao idoso que fala da época da ditadura com os olhos brilhando, sobre o quanto foi bom e aquilo que era governo; ou ainda, do quanto ele sabia e entendia de tal e tal coisa enquanto trabalhava e agora o atiraram às baratas, só porque está velho. São palavras perfeitas para aquele que trocou de emprego porque não aguentava mais onde estava, mas acabou por descobrir que todos os lugares têm problemas. Ou, pra o fulano que um dia pertenceu a um grupo ou a um lugar que ele mesmo sabe que não voltarão, mas incansável, ele repete sua história, seu passado, o quanto foi bom. Como um disco arranhado, em uma vitrola antiga. (Quem é dessa época, me entenderá). São compatíveis com todas as situações que quisermos. Na verdade, eu as vi perfeitamente vestidas em mim. Como se fosse um lindo vestido de alta costura.

Amei uma vez. Na verdade, devo ter amado outras tantas, ou ter inventado amores, não sei ao certo. Mas existiu certo sujeito que teve o dom de deixar meu coração arrítmico, sempre. Foi com ele que sonhei envelhecer e em minha imaginação podia ver nossos netinhos nos visitando. Contudo, amei sozinha. E quando intransitivo, amar é um verbo muito dolorido. Nossos caminhos se descruzaram, o tempo passou, e quando vi a fala de Marcela, detectei que eu ainda procurava em quem acabava de conhecer, as qualidades daquele amor do passado. Mesmo sem ser personagem da novela, recebi o conselho: “olhar para o presente sem olhos nostálgicos”.

É isso mesmo. Tanta coisa boa pode e com certeza vai acontecer hoje. Mesmo que o sol não brilhe, que chova torrencialmente e o mundo possa parecer sombrio, há vida; e fatos novos para se viver intensamente. Ficou a dica de Marcela, pra mim. E por isso, quis partilhá-la. Ainda em tempo, quando termino de ler um livro, me sinto um tanto quanto frustrada; parece que meus amigos, os personagens, foram embora. Antes de tudo isso, pensei que quando a novela terminasse eu também me sentiria assim, com saudade de amigos. Mas é preciso olhar o presente sem olhos nostálgicos. Ideia tirada nada mais, nada menos, do que de Carpe diem. Sim, aproveitar o dia, os amores, as oportunidades e até por que não, os problemas, ao máximo que se puder. Sugar de cada momento, de cada experiência, essência de vida; e seguir em frente. Sempre.