Acaba hoje, a novela Ti-ti-ti. Como fiquei envolvida com muitas letras, como disse no post anterior, não falei sobre algo que eu queria dizer. Via de regra não sou noveleira. Mas confesso que a esta assisti quase que de ponta a ponta. Talvez, por lembrar de alguns capítulos que vi enquanto criança e querer rir com a graça que eu lembrava. Mas o ponto é que gosto de retirar algumas pérolas do que é dito. Nem tudo, é apenas ficção.
Antes de qualquer coisa, eu gostaria de me deter na mocinha da novela: Marcela. Uma fofa! Gosto muito do trabalho de Isis Valverde, e sinceramente, parece que a personagem foi feita para a intérprete e vice-versa. Há, contudo, algumas discrepâncias que poderiam ser julgadas como licenças poéticas, talvez. Não sei. Marcela, no início da novela, era uma moça pobre que trabalhava como ajudante, lavando cabelos, em um salão de bairro em Bh; seu trabalho é este em função de sua pouca instrução. Contudo, a mesma Marcela finaliza a novela como colunista de uma importante revista, em São Paulo. Confesso, admito de verdade, que a sorte de Marcela me irrita. Embora eu saiba que contos de fadas são coisas de novela, livros e cinema; imagino que a grande maioria das pessoas que escrevem, como eu, gostaria de ter a chance de ser colunista, cronista, algo semelhante em algum veículo importante. A verdade é que nem tudo na vida são flores, principalmente na real; então permitamos a Marcela viver o nosso sonho, de mentirinha.
Mas porque falo de Marcela? Por que neste emprego específico, o de colunista, respondendo e-mails de leitores com problemas sentimentais, uma resposta dada pela personagem, me chamou bastante a atenção. Quem escrevera lhe pedia ajuda para esquecer alguém que não lhe merecia. E a colunista dizia então, que para esquecer alguém; “é preciso olhar o presente sem olhos nostálgicos”. Essas palavras mexeram comigo. De verdade. Elas não cabem apenas em casos de amor, elas se encaixam em tudo. Caem bem ao idoso que fala da época da ditadura com os olhos brilhando, sobre o quanto foi bom e aquilo que era governo; ou ainda, do quanto ele sabia e entendia de tal e tal coisa enquanto trabalhava e agora o atiraram às baratas, só porque está velho. São palavras perfeitas para aquele que trocou de emprego porque não aguentava mais onde estava, mas acabou por descobrir que todos os lugares têm problemas. Ou, pra o fulano que um dia pertenceu a um grupo ou a um lugar que ele mesmo sabe que não voltarão, mas incansável, ele repete sua história, seu passado, o quanto foi bom. Como um disco arranhado, em uma vitrola antiga. (Quem é dessa época, me entenderá). São compatíveis com todas as situações que quisermos. Na verdade, eu as vi perfeitamente vestidas em mim. Como se fosse um lindo vestido de alta costura.
Amei uma vez. Na verdade, devo ter amado outras tantas, ou ter inventado amores, não sei ao certo. Mas existiu certo sujeito que teve o dom de deixar meu coração arrítmico, sempre. Foi com ele que sonhei envelhecer e em minha imaginação podia ver nossos netinhos nos visitando. Contudo, amei sozinha. E quando intransitivo, amar é um verbo muito dolorido. Nossos caminhos se descruzaram, o tempo passou, e quando vi a fala de Marcela, detectei que eu ainda procurava em quem acabava de conhecer, as qualidades daquele amor do passado. Mesmo sem ser personagem da novela, recebi o conselho: “olhar para o presente sem olhos nostálgicos”.
É isso mesmo. Tanta coisa boa pode e com certeza vai acontecer hoje. Mesmo que o sol não brilhe, que chova torrencialmente e o mundo possa parecer sombrio, há vida; e fatos novos para se viver intensamente. Ficou a dica de Marcela, pra mim. E por isso, quis partilhá-la. Ainda em tempo, quando termino de ler um livro, me sinto um tanto quanto frustrada; parece que meus amigos, os personagens, foram embora. Antes de tudo isso, pensei que quando a novela terminasse eu também me sentiria assim, com saudade de amigos. Mas é preciso olhar o presente sem olhos nostálgicos. Ideia tirada nada mais, nada menos, do que de Carpe diem. Sim, aproveitar o dia, os amores, as oportunidades e até por que não, os problemas, ao máximo que se puder. Sugar de cada momento, de cada experiência, essência de vida; e seguir em frente. Sempre.